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O basquete, o talento e o efeito Mateo

O basquete, o talento e o efeito Mateo

Os jogadores têm maiores oportunidades de acordo a sua data de nascimento? Os números e a sociologia parecem respaldar esta tendência.

02 / 07 / 2020

Existe o talento no esporte? Concretamente, no basquete, podemos dizer que alguém joga bem porque é talentoso? Supõem-se que se um jogador integra a uma seleção possui algo que o resto dos jogadores não tem: certa habilidade, conhecimento do jogo, condução de situações, leitura e conhecimento tático. Podemos dizer que isso é consequência de seu talento?

Para começar a introduzir o debate, vamos tentar vincular o basquete à sociologia. Especificamente, com o Efeito Matthew, a denominação de um fenômeno de acumulação de bens, riqueza ou fama. Apesar de atribuírem o uso de este termo por primeira vez ao sociólogo Robert K. Merton em um artigo publicado em 1968, seu uso há sido estendido a outras disciplinas como a economia, a psicologia e a educação. A referência diz respeito tanto aos bens materiais, como o dinheiro, os valores imateriais, a confiança ou o prestígio social.

Se chama originariamente efeito Matthew pela citação bíblica (capítulo 13, versículo 12 do Evangelho de Santo Mateus / Matthew) que diz textualmente: “porque ao que tem lhe será dado e terá em abundância; mas ao que não tem, inclusive o que tem lhe será tirado”. Este tema é vinculado de forma brilhante com o esporte por Malcolm Gladwell em seu livro Outliers (Foras de série), quando analisa as seleções de Hockey sobre gelo do Canadá:

“E o que acontece a um jogador quando é escolhido para a seleção? Que recebe o melhor treinamento, que seus companheiros de equipe são os melhores e que joga cinquenta ou setenta e cinco partidas por temporada em vez de vinte, como os que perambulam por divisões de menos brilho, assim que treina o dobro ou até mesmo o triplo que se não tivesse sido selecionado. Ao princípio, sua vantagem não é tanto que ele seja intrinsecamente melhor, senão que é apenas um pouco mais velho. Mas aos treze ou quatorze anos, com a vantagem de um melhor treinamento e toda a experiência adquirida, realmente é melhor, o que lhe dá mais probabilidades de chegar à liga Major Junior A, e dali às ligas grandes.

Barnsley argumenta que estas distorções nas distribuições por idades se produzem sempre que haja estes três fatores: seleção, classificação e experiência diferenciada. Se uma pessoa toma uma decisão sobre quem é bom e quem não a uma idade precoce; se separamos os “talentosos” dos que não o são; e se damos àqueles “talentosos” uma experiência superior, o que fazemos é dar uma enorme vantagem a um pequeno grupo de nascidos pouco despois da data do corte.

São os bem-sucedidos, em outras palavras, os que têm mais probabilidades de receber o tipo de oportunidade especial que os conduzem a aprofundar no sucesso. São os ricos quem conseguem as maiores vantagens fiscais. Os melhores estudantes obtêm o melhor ensino e a maior parte da atenção. E as crianças mais desenvolvidas entre as de nove e dez anos serão as que terão acesso ao melhor treinamento prático. O sucesso resulta do que os sociólogos gostam de chamar “vantagem acumulativa”. O jogador de hockey profissional começa um pouco melhor que seus pares. E essa pouca diferença o conduz a uma oportunidade que, esta sim, de verdade, marca a diferença; e, por sua vez, ela conduz a outra oportunidade que aumenta mais ainda a que, no princípio, era uma diferença tão pequena, y assim até que nosso jogador de hockey se converte em um verdadeiro fora de série. Mas ele não começou como fora de série. Simplesmente começou um pouco melhor”. 

Muito bom, tudo muito lindo com o sociólogo e o hockey, mas o que acontece no nosso basquete? Para comprovar se isso ocorria em nosso esporte, analisamos os últimos 3 campeonatos argentinos U13 de seleções, baseando-nos nas listas de inscrição apresentada por cada federação. Tabulamos cada dado. Confira abaixo:

Para nossa surpresa, esse efeito também acontece na categoria U13 do nosso basquete. 43% dos jogadores que integram as seleções provinciais (estaduais na Argentina) da categoria nasceram no primeiro trimestre do ano. O percentual se reduz à medida que avança o ano. Os jogadores que nasceram no último trimestre (outubro, novembro e dezembro) são os de menor porcentual. Apesar que pertencem à 15% da amostra, contra 14% do terceiro trimestre do ano (julho, agosto e setembro), também estão incluídos no último quartil os jogadores menores do que a categoria em questão, neste caso, o mini basquete.

Como conclusão, um indicador determinante do rendimento, ao momento de selecionar os jogadores para integrar os representativos provinciais, é a data de nascimento ou sua idade cronológica. Então, podemos supor que estes jogadores, desde a primeira categoria competitiva, terão melhores estímulos e poderão capitalizar maiores e melhores experiências desportivas que os que não foram selecionados.

Para seguir com a análise, nos propomos a observar qual peso tem os jogadores nascidos no primeiro trimestre do ano nas equipes que conquistaram o campeonato nesses três torneios. Os dados corroboram para a tendência. Das três últimas equipes campeãs do camponato Argentino de Seleções masculino, estas foram a quantidade de jogadores nascidos no primeiro trimestre do ano em cada um deles:

  • Buenos Aires campeão em 2017: 6 jogadores;
  • Buenos Aires campeão em 2018: 8 jogadores;
  • Córdoba campeão em 2019: 8 jogadores.

A estes dados há que se somar que dois dos três últimos jogadores mais valiosos (MVP) do torneio também nasceram no primeiro trimestre do ano:

  • MVP de 2017: Lucas Fresno (Buenos Aires): 13/03/2004
  • MVP de 2018: Lucas Giovanetti (Buenos Aires): 14/06/2005
  • MVP de 2019: Bruno Farías (Córdoba): 14/03/2006

Assim, esta tendência que apontava o sociólogo Malcolm Gladwell tem correlação com o futuro desportivo dos jogadores? Esta seleção nas idades mais novas condiciona que sejam estes, jogadores nascidos no primeiro trimestre do ano, os que terminem tendo mais possibilidades de jogar basquete de forma profissional? Vejamos o plantel que apresentou a Argentina no mundial masculino da China em 2019.

A tendência não somente se mantém senão que se acentua com o passar do tempo. Os 13 anos é a idade que funciona como um ponto de inflexão em quanto à maduração dos adolescentes. Seria conveniente refletir se unicamente o critério de seleção vinculado ao rendimento atual do jogador é o mais adequado ou não, pensando no desenvolvimento dos jogadores a longo prazo. Também vale a pena se perguntar por que as categorias superiores não estão integradas por jogadores nascidos em diferentes datas ao longo do ano. Se os que nasceram no primeiro trimestre são os mais talentosos ou talvez desde muito novos tiveram melhores oportunidades que o resto.

por Pablo Genga

Tradução: Filipe Ferreira

Bibliografia consultada

- Estatísticas dos Campeonatos Argentinos de Seleções disponíveis no link www.torneoscabb.com.

- Gladwell, Malcolm. Outliers (2008) (Fuera de serie: Por qué unas personas tienen éxito y otras no).

Análisis e investigación

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