A voz é uma ferramenta de trabalho, talvez a mais castigada nos treinamentos de basquete, especialmente porque a usamos de forma inadequada e não levamos em conta o contexto no qual se desenvolvem as práticas desportivas. A Licenciada em fonoaudiologia María Elena Jáuregui (M.P. 730) é contundente neste sentido. “O treinador e a treinadora de basquete, como todo profissional da voz, deve tratar de realizar as atividades com o menor esforço possível”, explica como ponto de partida.
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A voz está relacionada com diferentes sistemas e subsistemas, tais como o Sistema nervoso central, o Sistema postural, fonatório, respiratório, ressonante, endócrino, digestivo, circulatório, auditivo e a lista segue. Ou seja, é importante analisar múltiplas variáveis para otimizar e melhorar seu uso. A professora María Elena desenvolve ponto a ponto:
Acústica dos ginásios ou quadras externas
Algumas aulas com grandes dimensões, ao ar livre ou com tetos de elevada altura obrigam a elevar a voz. Menção especial merecem os treinamentos de basquete, que se desenvolvem em espaços de grandes dimensões como ginásios ou quadras poliesportivas ou, inclusive, ao ar livre.
Tanto a relação entre as diferentes dimensões (comprimento, altura e largura), como os materiais que cobrem o solo e paredes de alguns espaços geram reverberação, fenômeno que dificulta a comunicação. Como consequência, os treinadores e treinadoras devem forçar a voz para conseguir que sua mensagem seja compreendida pelos jogadores.
As condições extremas e as variações de temperatura, tanto dentro do espaço físico e nos corredores, podem gerar problemas no aparato respiratório e, portanto, também afetar à fonação.
Pode haver problemas com níveis baixos de humidade, que aparecem, sobretudo, quando está funcionando a calefação (sistema de aquecimento a gás), o que dificulta a manutenção do nível necessário de lubrificação das cordas vocais. Pelo contrário, nos ginásios ou nas aulas de educação física ao ar livre os problemas costumam ocorrer pelo excesso de humidade, em lugares úmidos.
Uma ventilação escassa gera um ar viciado, com maior concentração de agentes potencialmente patogênicos e maus odores, fator que pode influenciar indiretamente na fonação.
Horários dos treinamentos
As aulas das primeiras horas da manhã e depois de comer são de maior risco. Depois de nos despertar, a atividade orgânica é regida pelo Sistema simpático (parte do sistema nervoso que governa a vida vegetativa e é independente da vontade) o que dificulta a atividade das pregas vocais. Depois de comer, se ativa a digestão, que é uma função regulada, igual à fonação, pelo nervo vago. Aparece o cochilo que induz a uma fonação mais custosa e se agrava diante da dificuldade do descenso do diafragma devido a que aumenta o volume do estômago.
Estrese
A tensão gerada pela tarefa e pela multiplicidade de funções, que implica desenvolver um treinamento, influencia na utilização da voz. A tarefa docente-treinador exige um grande rendimento físico e psíquico de tal forma que qualquer situação que diminua dita capacidade levará um maior esforço vocal para compensá-la.
Uma vez que visualizamos os fatores que intervém no uso da voz, é importante, agrega a fonoaudióloga, cuidar da postura no momento de falar: manter-se sempre na vertical, em equilíbrio e com um bom apoio no solo. A respiração abdominal também é essencial para aproveitar o caudal do ar e cuidar da saúde das pregas vocais.
Dicas para cuidar da voz
- Falar de forma clara, lenta e a um ritmo adequado. Evitar excitação e formular comandos curtos.
- Ressonar, projetar e entonar de forma correta, ou seja, com o menor esforço possível.
- Não falar encima do ruído ambiental. Desenvolver estratégias para perceber sons e ruídos ambientais.
- Respeitar a articulação e os moldes vocais. Articular as palavras de acordo a seu correto ponto e modo.
- Manter-se relaxado, de forma localizada e geral.
Dicas para melhorar a voz
- Manter uma dieta equilibrada.
- Não comer em grandes quantidades.
- Não ingerir alimentos ou bebidas excessivamente geladas.
- Evitar alimentos apimentados, fortes e com excesso de sal que irritam a mucosa laríngea.
- As bebidas alcoólicas também afetam o aparato fonador.
- Tomar abundante água durante todo o dia. Dois litros, se é possível.
- Em caso de apresentar alterações na voz, consumir infusões de tomilho, orégano e mel para favorecer à lubrificação das pregas vocais.
Dicas de higiene vocal
- Praticar regularmente exercícios de ginástica respiratória para favorecer a mobilidade do diafragma.
- Evitar ambientes com fumaça ou com pó em suspensão.
- Realizar um aquecimento vocal prévio aos treinamentos. Exercícios de descarga corporal e relaxamento de órgãos buco fonatórios.
- Evitar falar em ambientes ruidosos ou com forte aclimatação.
- Diante das mudanças bruscas de temperatura, tampar a boca no inverno ao sair à rua.
- Respeitar o descanso noturno ao redor de 7 - 9 horas.
- Evitar falar durante exercício físico, especialmente se é intenso: o organismo dá prioridade à respiração para captar oxigênio que uma boa respiração fônica, além da tensão muscular que é incrementada de forma geral.
- Procurar não ficar sem ar na metade de uma frase, falar de forma pausada para evitar utilizar o ar residual.
- Evitar falar com catarro ou ronquidão assim como sussurrar, já que o ar não sai com a suficiente limpeza e danaria mais a zona ativa.
- Evitar falar na inspiração.
- Não abusar de traumatismos vocais, pigarrear, espirros ruidosos, gritos e tosse estrondosa.
- É benéfico o bocejo, provoca um estiramento e descongestão da musculatura da faringe. Para provocá-lo, elevar a língua ao paladar e abrir a boca em forma de “o” pero sem abrir os lábios.
- Vocalizar de forma ampla ao falar. Para observar se fazemos isso corretamente, realizá-lo de frente ao espelho.
- Não falar pouco senão falar bem. O repouso vocal não cura, evita a formação de lesões. No caso de moléstias constantes se aconselha realizar controles periódicos da voz com um otorrinolaringologista e fonoaudiólogo.
Tradução: Filipe Ferreira