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Desconstruindo a competição interna: estamos “roubando” jogadores?

Desconstruindo a competição interna: estamos “roubando” jogadores?

Os motivos, as aspirações, o projeto esportivo e o mito dos clubes pequenos. O treinador Juan Lofrano aborda um tema incômodo que impacta no nível institucional.

O tema que apresento possui diversas perspectivas. Tentarei descrever uma situação pontual com a qual os clubes convivem e, posteriormente, apresentar meu posicionamento sobre o assunto. Nesta ocasião, vou limitar meu relato ao contexto do basquete argentino, pois não me sinto com autoridade nem conhecimento suficientes para abordar um campo mais amplo. A troca de jogadores de um clube para outro é algo que sempre existiu e que se repete em todo o país. Categorizar essa situação como boa ou ruim é uma simplificação que impede de enxergar as nuances que cada realidade impõe.

Em primeiro lugar, tentarei descrever a situação com exemplos concretos. Partimos da ideia hipotética de que existem clubes “grandes” (não acredito nessa hierarquização, mas ela faz parte do imaginário coletivo) que seduzem e concentram jogadores nas categorias de base, enquanto os clubes “pequenos” sofrem com essas perdas. Expressões como “nos tiraram nosso melhor U15” ou “perdemos metade do time U17 e desmontaram a geração” são comuns em nosso basquete.

É fundamental entender de onde vem essa sensação de que um clube é grande. Muitas vezes, o simples fato de disputar uma “liga” já é suficiente para merecer esse status, prometendo um futuro de sucesso garantido. Em outras ocasiões, aproveitar o desejo de “vencer e ser campeão” serve de justificativa para romper com a competição interna e atrair os jogadores mais destacados da categoria. Além disso, a ilusão de no futuro disputar competições de nível mais alto é outra das motivações que levam à troca de camisa. Certamente, cada um de vocês poderá identificar outros motivos a partir de suas vivências e contextos.

A partir dessa descrição, surgem duas posturas bem definidas. De um lado, o clube que perde seus melhores jogadores experimenta sentimentos de raiva, tristeza e impotência: “não podemos fazer nada para mantê-los, o jogador e sua família querem mudar de projeto”. Do outro lado, o clube que os recebe justifica a mudança com argumentos como: “o menino quer continuar evoluindo, competir mais e melhor”. Esses dois argumentos nos deixam com visões opostas e aparentemente irreconciliáveis. A ausência de um projeto coletivo é substituída pelos interesses particulares de vencer a qualquer custo.

A situação está colocada. Agora, vamos refletir juntos sobre possíveis soluções, com o objetivo de preservar a competição interna, promover o desenvolvimento de jogadores em longo prazo e incentivar a convivência saudável entre os diversos projetos esportivos de cada comunidade.

Os jogadores percorrem um caminho com etapas e interesses bem definidos: o mini basquete busca encantá-los com o jogo, ampliando o acesso por meio de um bom ensino, aprendizado e evolução. A partir do U13, nosso objetivo é potencializar o desenvolvimento do jogador por meio de uma formação integral, instaurar hábitos de treino e competir visando à melhoria contínua individual e coletiva. Isso culmina em duas possibilidades bem definidas: escolher o basquete como uma opção de desenvolvimento profissional ou adotar hábitos esportivos duradouros.

Tenho consciência de que o que proponho pode soar utópico e ingênuo. No entanto, ainda é uma possibilidade para superar as dificuldades enfrentadas pelos clubes que priorizam formar bons jogadores e equipes diante da perda precipitada e desnecessária de talentos.

Nós, formadores e treinadores, devemos comunicar às famílias e jogadores em que consiste nosso projeto, deixando claro qual é o propósito do nosso clube. Ter esse horizonte definido convida todos a percorrê-lo juntos. Existem indicadores claros que sustentam um bom projeto de formação: entre 4 e 5 estímulos de treino semanais, espaços para o trabalho de técnica individual, preparação física/motricidade, um plano de competições equilibrado e desafiador, a valorização do “treino invisível” e a construção de grupos de pertencimento sólidos. A partir dessa descrição, me permito questionar se os clubes grandes são realmente tão grandes e os pequenos, tão pequenos. Será que não estamos partindo de uma visão equivocada, e os melhores projetos formativos nem sempre coincidem com os clubes que disputam o basquete profissional?

Em seguida, é necessário pensar em alianças com projetos esportivos que possam enriquecer minha proposta. O ideal seria que o clube “pequeno” encaminhasse seus melhores jogadores aos clubes “grandes”, para que continuem seu desenvolvimento: “nós chegamos até aqui, agora é hora de você seguir crescendo”.

Não estou dizendo nada novo ao afirmar que, quando conseguimos equilibrar a competição interna, todos melhoramos: jogadores, treinadores, árbitros e dirigentes. Citando Julio Velasco como referência, nada é mais desafiador do que “tentar vencer”. A competição é a forma mais eficaz de colaboração que existe. Os outros me ajudam a enxergar onde preciso melhorar.

Em resumo, proponho uma relação de ganha-ganha: clubes formadores que possam desenvolver processos sistemáticos, pacientes e cuidadosos de desenvolvimento de jogadores, e clubes que se nutrem desses projetos no momento adequado para a alta competição.

por Juan Lofrano

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