A importância da técnica individual no basquete é inegável. A complexidade do nosso esporte está em dominar um elemento com as mãos e criar vantagens com os pés, numa quadra que, devido ao aumento da envergadura dos jogadores, parece cada vez menor. Nesse contexto, é compreensível e justificado o tempo que nós, treinadores, dedicamos ao aperfeiçoamento técnico dos atletas, muitas vezes em situações de 1x0, com exercícios de controle de bola e finalização.
Além dessa necessidade legítima de treinar a técnica individual conforme as demandas do jogo, há também a pressão para produzir conteúdo para redes sociais. Mostrar um atleta praticando passes ou deslocamentos defensivos dificilmente chama atenção; já vídeos de jogadores driblando sobre um tapete, desviando de cones com mudanças de direção combinadas ou repetindo drags antes de finalizar costumam atrair muito mais olhares.
Na minha visão, vivemos uma fase de excesso de treino técnico isolado, muitas vezes desconectado do contexto real de jogo. A execução coreografada de gestos não forma, por si só, um jogador melhor — o que se cria é um atleta robotizado, capaz de executar com perfeição movimentos que, na maioria das vezes, não sabe quando, onde ou por que utilizar.
É nesse ponto que entra um conceito capaz de completar o trabalho da técnica individual: a tactificação. Em termos simples, é colocar a técnica individual a serviço da resolução de problemas em contextos favoráveis à sua aplicação. Ou seja, conectar de imediato o gesto técnico que queremos aperfeiçoar a uma situação real de jogo, onde essa habilidade será necessária.
Se quisermos treinar mudanças de direção, um trabalho isolado poderia ser apenas desviar de cones em 1x0 e finalizar. Isso pode ter alguma utilidade, mas falta algo. Ao treinar técnica individual, precisamos lembrar que toda ação motora envolve três etapas: perceber o ambiente e o próprio corpo, tomar decisões e executar. A execução é a parte visível, mas as outras duas também podem (e devem) ser treinadas.
Para transformar o treino técnico em tactificação, utilizamos um recurso didático chamado formas intermediárias. São cenários em que, numa parte da quadra, o jogador aperfeiçoa a técnica e, logo em seguida, em outra parte, a aplica em uma situação de jogo reduzido e com condições específicas.
Exemplo: em uma das cestas, o atleta passa por um drill desviando de cones, usando diferentes mudanças de direção, variações de ritmo, paradas e arrancadas. Na outra, participa de um 1x2, em que dois defensores têm uma bola na mão cada um, servindo como oposição. O atacante precisa driblá-los usando os movimentos treinados, sem virar de costas nem se aproximar das linhas, para conseguir o melhor arremesso possível.
Assim, em um lado da quadra trabalhamos a execução; no outro, a aplicação. O próprio desenho do drill exige que o jogador use a mudança como recurso, adaptando velocidade, avaliando a distância em relação aos defensores, cuidando da posição na quadra para não se encurralar e identificando espaços livres para atacar e arremessar.
Essa ligação entre técnica e aplicação é o que chamamos de transferência. Aplicar o que se aprende de forma imediata dá sentido ao treino, aumenta a retenção do aprendizado e eleva a motivação do atleta.
Outra vantagem da tactificação é permitir ajustes conforme o nível do grupo. Na parte técnica, podemos oferecer desde mudanças simples até combinações complexas, incluindo drags. Na parte tática, é possível variar o grau de oposição — dois, um ou nenhum defensor com bola —, o que altera a liberdade para usar as mãos e tentar o roubo.
No fim, o limite é a criatividade do treinador. O essencial é garantir que a conexão entre técnica e tática individual permita ao jogador entender o que está fazendo, quando, onde e por que fazer, além de como executar.
por Pablo Genga
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