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Os outros e as outras

Os outros e as outras

Quem são essas pessoas que, em silêncio, nos marcam o caminho como formadores e formadoras. Nesse processo informal e cotidiano há chaves para nossa aprendizagem.

28 / 08 / 2020

A motivação para escrever este artigo tem sua origem em uma pergunta de Carlos Saggio, querido e admirado amigo e psicólogo da CABB (Confederação Argentina de Basquetebol), em uma “live” que fizemos faz poucos dias. Me perguntou sobre o caminho que percorri na minha capacitação. Minha resposta imediata foi previsível e pouco arriscada: minhas vivências como jogador, meus estudos formais (faculdade de educação física, licenciatura, INEF, mestrado, níveis da ENEBA – Escola Nacional de Treinadores de Basquete da Argentina) e várias instâncias autogeridas como clínicas, acampamentos, palestras temáticas, vídeos, conferências, seminários, leituras específicas e complementárias, etc. Dentro deste mosaico, deixei para o final os outros e as outras, esse acontecimento informal da capacitação que toma cada dia mais força e transferências a contextos de aplicação real.

Poderíamos começar com os outros e as outras de minha família, óbvio. São os primeiros que me conectam com este mundo do esporte em geral e do basquete em particular. Entretanto, quero centrar meu relato nos outros e nas outras que cruzam nosso caminho e se convertem em exemplos da relação que estabelecemos com a profissão e com seu saber.

I Congresso Internacional de Mini basquetebol LG

Estou convencido de que ensinar não é fácil e que não nascemos com talento para ensinar. Portanto, longe de pensar na sorte ou algo parecido, a formação continuada e sistemática é um fator determinante. É muito comum escutar treinadores consagrados citar pessoas protagonistas no seu trajeto ao êxito, custodiando sua evolução e marcando tempos de forma paciente para subir cada degrau em sua trajetória profissional.


No meu caminho aparecem nomes como Norberto, Federico, Daniel, Pablo, Silvio, Maxi, Javier, Carlos, Agustín, Diego. Sobre eles quero refletir e deixar claro a importância que adquirem quando uma pessoa olha para trás: reconhece seu presente e projeta seu processo de formação. Em diferentes momentos, cada um deles teve maior transcendência. Esses nomes acompanharam e empurraram equilibrar minhas possibilidades, meus desejos e meus desafios próprios da complexidade dos processos de aprendizagem permanente.

A Liga Nacional de Basquete da Argentina reconhece o professor León Najnudel com o grande outro no seu sonho de federalizar o torneio. A seleção argentina reflete o outro com Rubén Magnano, Julio Lamas e Sergio Hernández na sua filosofia de jogo. Mas nem tudo é macro e nem está no âmbito mais vistoso do esporte. O país está repleto de outros e outras em cada um dos intocáveis e necessários clubes de bairro.

Enquanto penso nestas linhas, visualizo com nitidez esse processo silencioso de ser o outro ou a outra de algum docente ou treinador em formação, e a importância de devolver algo do muito que recebi e recebo dos meus outros e outras.

O esporte é sempre educativo?

Há teorias atuais que sinalizam que uma pessoa é o resultado das 10 pessoas que temos mais perto. O número é caprichoso, obviamente. Mas, sem entrar nesses detalhes, é muito provável que esta proximidade aconteça um processo de intercâmbio permanente e muitas vezes até invisível. Os antigos sábios japoneses, inclusive, iam um passo além: nem sequer falavam de um intercâmbio concreto, sinalavam que o simples feito de estar perto de um grande professor já era suficiente para se nutrir. Escolher bem essas 10 pessoas, os outros e as outras, pode se interpretar como o primeiro passo para a evolução pessoal e coletiva.   

Percorrer introspectivamente seus outros e outras é uma atividade necessária, que nos permite visualizar e reconhecer quem nos empurram de nossa zona de conforto para nos propor novos desafios e aprendizagens, com novas perguntas e a ilusão de encontrar novas respostas.

por Juan Lofrano

Tradução: Filipe Ferreira

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